sábado, 27 de dezembro de 2008

Abordagem policial termina em morte em Bom Jesus do Galho

O comando do 11º Batalhão de Polícia Militar, sediado em Manhuaçu, instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar como ocorreu a mal-sucedida abordagem em Revés do Belém, distrito de Bom Jesus do Galho. O soldador Valdemar Ribeiro, de 34 anos, conhecido como Peixe por vários esportistas de futebol amador, morreu com um tiro no peito na noite de Natal ao ter o carro em que estava parado por policiais militares.

A abordagem ocorreu na avenida Vitória-Régia, na área central do distrito, próximo ao número 45. O motorista Laurentino José Ferreira Rocha, de 41 anos, estava na direção do Gol placas GUU-6122 (Belo Oriente) quando foi parado pelo cabo Isaque e outro colega. No veículo estavam, além de Peixe, mais dois amigos de Líli, como é conhecido o motorista parado pelos PMs.

Wellington FredLaurentino alega que Peixe foi buscado na casa do sogro dele para ajudar a retirar um Fiat Uno que ficou atolado a dois quilômetros do distrito. O motorista negou que tenha feito direção perigosa com o carro. Contou que, ao sair de um bar, o pneu deslizou nas pedras da avenida, sem intenção.

O condutor alega ainda que ao parar o carro recebeu uma pancada do cabo Isaque no lado esquerdo da cabeça. “Nem vi que era o militar. Pensei que fosse alguém fazendo uma brincadeira sem graça. Não entendi direito o que aconteceu e, ao olhar para o Peixe, sentado no banco de trás, notei que ele estava baleado”, relatou o motorista, que acabou preso acusado de direção perigosa e levado para a delegacia de Caratinga, onde assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO).

O próprio motorista, antes de ser detido pelos policiais, socorreu o amigo e o levou ao Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, porém a vítima chegou sem vida. O corpo de Peixe foi trazido para o IML de Ipatinga e liberado no fim da manhã de ontem. O velório ocorreu durante todo o dia na Igreja Católica de Revés do Belém. O enterro está programado para ocorrer na manhã de hoje, no cemitério do distrito.

Violenta

Os familiares de Peixe disseram ao Diário do Aço, revoltados, que o policial militar é uma pessoa violenta no distrito. “Dias atrás, ele agrediu e quebrou os braços de Carlos (José Carlos Lopes), como você pode ver aí, seu repórter”, disse a irmã de Valdemar, a doméstica Maria Amélia da Silva, de 42 anos, apontando para o pedreiro, que alegou não ter feito denúncia à polícia por causa de ameaças.

Peixe era casado e deixou uma filha de um ano de idade. Funcionário da empreiteira Ebec, ele morava na rua Santarém, no bairro Veneza II, porém seus familiares são todos de Revés do Belém. O soldador jogava em times de futebol amador de Ipatinga. Atuando na posição de volante, o rapaz disputou o último campeonato pelo time do Itamaraty, do bairro Bethânia.

Revoltado também com o ocorrido, o único comentário era um só no IML de Ipatinga, onde amigos aguardavam a liberação do corpo de Peixe. “Ele era uma pessoa de quem todos gostavam. Jogou vários anos no nosso time e com certeza vai fazer falta no meio esportivo pelo carisma dele”, contou o presidente do União Esporte Clube, Alaor Lucas, 57, que chorou ao lembrar do amigo.

Outro lado

O Diário do Aço conversou por telefone com o tenente Walter, responsável pelo IPM. Ele informou que o policial militar está recolhido no 11º BPM, em Manhuaçu, onde vai aguardar a decisão da Justiça Militar. O oficial alegou que houve abordagem devido à prática de direção perigosa. “O cabo foi abordá-lo e acabou havendo o disparo. Desde o momento em que ocorreu o fato a PM está realizando todos os procedimentos”, alegou Walter.

O oficial disse que não sabe de qualquer problema anterior do cabo Isaque. “Não chegou esta informação ao comando da PM, mas sabemos que presta um bom serviço no distrito. Estamos ouvindo todos e fazendo o procedimento para que a Justiça possa ter embasamento legal sobre o caso. Por enquanto, o militar está sob custódia da PM. A pistola semi-automática de calibre 380 foi apreendida e encaminhada à Polícia Civil para a realização do laudo”, finalizou.
Redação do Diário do Aço - Ipatinga

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