O ex-deputado federal Ibrahim Abi-Ackel foi acusado ontem de praticar tráfico de influência. Ele teria procurado autoridades do Judiciário e das polícias mineiras para beneficiar um ex-prefeito suspeito de assassinato para quem advoga.
Abi-Ackel foi ministro da Justiça de 1979 a 1985, secretário de Defesa Social de Minas Gerais em 2006 e assessor especial do governador de Minas até agosto de 2008.
A suspeita contra Abi-Ackel foi levantada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e está fundamentada em gravações telefônicas autorizadas pela Justiça a pedido do Ministério Público Estadual.
O telefone grampeado era o do ex-prefeito Manoel Pereira Lima, de Santa Margarida, conhecido como Nelito.
Nas datas das gravações apresentadas pelo presidente da comissão de Direitos Humanos, deputado estadual Durval Ângelo (PT), em julho de 2008, Abi-Ackel ainda era assessor especial do governador Aécio Neves (PSDB). Apesar de ele ter negado à Folha exercer a assessoria na ocasião, o governo de Minas informou que sua exoneração foi pedida em 19 de agosto de 2008, um mês após a gravação dos diálogos.
Nas conversas com o seu cliente, Abi-Ackel tenta, por exemplo, evitar que Nelito seja algemado. Diz que conversara com o comandante-geral da Polícia Militar, com o chefe da Polícia Civil e com os delegados que cuidam do caso. Diz ter conversado também com a juíza do caso e com desembargador no Tribunal de Justiça.
Em outra conversa, ao orientar seu cliente para o depoimento diante da juíza, Abi-Ackel diz que nem os advogados nem os promotores vão fazer perguntas e que Nelito ficasse tranquilo. E acrescenta, conforme a gravação de 19 de julho de 2008: "Não se impressione muito com a cara dela, não, porque está tudo bem".
O crime em questão é o assassinato de um oficial de Justiça que teria a receber de Nelito R$ 100 mil de comércio de sacas de café supostamente ilegal. Nelito é apontado pelo Ministério Público Estadual de ter contratado dois pistoleiros para matar o oficial de Justiça, para não pagá-lo. Delegados são suspeitos de mudar os resultados das investigações iniciais e não acusar Nelito.
Na semana que vem, os dois pistoleiros podem ser julgados. A comissão do Legislativo encaminhou as suspeitas para as corregedorias da Justiça e da Polícia Civil.
Outro Lado
Abi-Ackel negou trafico de influência. "Na defesa de uma causa eu converso com todas as pessoas que possam ter qualquer informação de interesse para a causa. Não posso especificar com quem nesse caso conversei porque eu tenho muitos clientes e converso com todo mundo. Não converso para influenciar ninguém, mas para ter informações necessárias para a defesa da causa."
A assessoria de Aécio informou que não tinha conhecimento de que Abi-Ackel advogava quando era assessor. Essa restrição, segundo o governo, existe no estatuto da OAB. Disse ainda que Abi-Ackel, ao pedir a exoneração, alegou justamente a incompatibilidade da advocacia com o cargo público.
Paulo Peixoto - Agência Folha
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