quarta-feira, 17 de abril de 2013

Telefonemas revelam lista para matar mais jornalistas


A onda de crimes contra profissionais da imprensa no Vale do Aço, em Minas Gerais, pode não ficar restrita aos assassinatos do repórter policial e apresentador Rodrigo Neto, em 8 de março, em Ipatinga, e do fotógrafo Walgney Assis Carvalho, morto no último domingo, em Coronel Fabriciano. Outros dois jornalistas sofreram ameaças e estariam na lista de um grupo de extermínio formado por policiais da região. Para proteger os profissionais, polícia intensificou patrulhamento perto da casa de um deles. (foto: Sociedade. O palhaço Gueblinho fez um protesto ontem contra a violência, na Câmara Municipal de Ipatinga)


As ameaças aconteceram depois dos dois assassinatos. O editor do jornal "Diário Popular", Fernando Benedito, e um comunicador de uma rádio AM que apresentava um programa ao lado de Neto, seriam os próximos alvos dos matadores. A informação já circula entre os profissionais da imprensa que atuam na região.



Benedito foi informado que "deveria ficar mais manso com a corporação" para que nada de ruim acontecesse. A ameaça ao parceiro de Neto chegou pelo número de telefone 190, da Polícia Militar. (PM). Uma ligação dava conta de que o radialista poderia ser morto porque "sabe demais" sobre os crimes ocorridos no Vale do Aço.



As forças de segurança que atuam em Ipatinga têm conhecimento das ameaças, mas ainda não investigam os autores. A Polícia Militar informou apenas que o policiamento foi reforçado nas imediações da casa do radialista, com viaturas passando na rua onde ele mora "com mais frequência que o normal".



Como as investigações correm em sigilo, a Polícia Civil não repassou muitas informações. Apenas se limitou a dizer que há diversas linhas de investigação para as mortes de Neto e Carvalho. O delegado Wagner Pinto, chefe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), esteve em Ipatinga e Coronel Fabriciano. Ontem, ele foi insistentemente procurado pela reportagem de O TEMPO, mas não retornou as ligações.



Entre os profissionais que atuam no Vale do Aço, o pedido é de justiça. "Nós esperamos. Queremos respostas da polícia sobre as investigações desses assassinatos, que tanto nos chocaram", afirmou o diretor do jornal "Vale do Aço" e da rádio AM. Neto trabalhava nos dois veículos, e Carvalho prestava serviços de freelancer para o jornal impresso.



Mudança. 

A rotina dos dois jornalistas ameaçados mudou desde então, segundo colegas. Qualquer motocicleta que para ao lado deles é motivo de apreensão e eles não saem mais sem sentir medo de todos aqueles que se aproximam.



A ordem agora, principalmente depois do assassinato de Carvalho, é manter a discrição. Falar abertamente sobre o assunto, por exemplo, é praticamente proibido, uma vez que a sensação de insegurança impera entre os profissionais envolvidos na cobertura.

Crimes afastam profissionais
Após os assassinatos de Rodrigo Neto e de Walgney Assis Carvalho, o medo se espalhou entre os profissionais da imprensa da região do Vale do Aço, e os repórteres da editoria de polícia se transformaram em profissionais raros nos jornais e portais de internet. 


No impresso "Diário Popular", um dos mais combativos da região, por exemplo, a repórter que cobria a área policial pediu demissão e saiu de Minas Gerais. "Ela estava com muito medo de continuar trabalhando", contou a colega Nadiele Satler, na cobertura policial interinamente. A colega que saiu do Estado atuava há um ano e quatro meses no "Diário Popular".



No jornal "Vale do Aço", a vaga que Neto ocupava ainda não foi preenchida. "Ninguém quer essa vaga. Agora é que estamos fazendo testes com uma jovem e vamos ver se ela ainda vai querer o emprego", explicou o diretor de redação da publicação, Breno Brandão. O repórter que estava cobrindo as ocorrências policiais desde a morte de Neto havia sido transferido de setor temporariamente, mas pediu para sair da editoria de polícia logo após o assassinato de Carvalho.



No portal "Plox", o principal do Vale do Aço, a repórter que atuava na mesma área também decidiu sair do emprego. Segundo colegas, a onda de assassinatos foi o motivo do pedido de demissão, logo depois da morte do fotógrafo. "Cansei disso (da vida de repórter policial)", desabafou outro jornalista, que pensa em deixar o ofício.



Para não deixar a morte do jornalista impune, às sextas-feiras, o comitê Rodrigo Neto, formado para acompanhar as investigações, tem divulgado reportagens que rememoram os crimes investigados por ele e ainda sem solução. Com a morte de Carvalho, a ideia é intensificar o trabalho. "Essas mortes não podem ser esquecidas", informou o comitê. 

Fonte: O Tempo

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